... tinhamos quê, uns 15 anos, não? Éramos os dois uns miúdos, com a dose certa (?) de introversão, timidez e alegria, sem saber ainda bem o que esperar da vida.
Não me lembro do momento exacto em que nos conhecemos, talvez num daqueles tempos que passavamos no pátio do liceu... lembro-me sim, que te tornaste parte importante da minha vida logo desde o ínicio. Tu, muito compenetrado, emancipado (sim, afinal, eras o único que tinha deixado os pais, para vir para um liceu que não era o "teu"), centrado em ti e em tudo o que te rodeia e brincalhão, acima de tudo, brincalhão; eu, sempre despassarada e igualmente despachada, sempre pronta a oferecer um sorriso e um abraço. Tornamo-nos inseparáveis. Ao longo dos anos, foste o amigo de todas as horas, defendeste-me quando quem tinha de defender, ficou de braços cruzados, foste companheiro de alegrias e de copos - G, tu sabes que não sou assim, só tu sabes, soa-te familiar? :D - foste colinho de muita tristeza e desconsolo, confidente, cúmplice de gargalhadas e de lágrimas, enfim, amigo, na verdadeira acepção da palavra!
Chegámos a fazer daquelas promessas de miúdos, se chegarmos aos 33 anos sem ninguém, casamo-nos! ...
Os teus olhos azuis, sempre reservados, chamavam atenções, mas a ti, nada te interessava. Fomos crescendo, passámos do sul para um bocadinho mais acima, e a nossa amizade tornou-se cada vez mais sólida. Eras o amigo que toda a gente gostava de ter, interessante, companheiro, culto e ainda por cima, giro!
Depois, acabei o curso, começei a trabalhar e, nessa altura, afastamo-nos. Agora que penso melhor, foste tu que te afastaste, mas não percebi porquê, pensei que a falta de tempo ou investimento profissional justificassem esse afastamento. Encontravamo-nos algumas vezes, mas tu fugias, e, mais uma vez, eu não percebia, projectava isso em mim, porque também estava a passar por uma fase conturbada da minha vida pessoal e emocional. Hoje, olho para trás e penso, como é que não vi o que estava diante de mim? Quase te afundaste em dúvidas, incertezas e preconceitos e eu não me dei conta! Talvez te pudesse ter ajudado, talvez tivesse feito a diferença... talvez...
Depois, afastamo-nos fisica e geograficamente. Eu vim procurar-me, tu, ficaste a descobrir-te. E assim ficámos, resumindo o nosso contacto a conversas no msn, telefonemas e mails ocasionais; até que um amigo em comum me contou que lhe tinhas contado. Não vou negar que não foi uma total surpresa para mim. Não foi. Eu suspeitava, mas nunca desrespeitei a privacidade de ninguém, muito menos ia desrespeitar a tua, meu querido amigo. A mim, nunca me disseste nada, nunca assumiste nada literalmente. Nem tens de o fazer G. Talvez tenhas medo de me defraudar, de perderes a minha amizade só porque a tua vida não está a par do dito "normal"... A mim, basta-me saber que continuas a pessoa que sempre foste, brincalhão e amigo de todas as ocasiões! Gosto muito de ti, da pessoa que tu és e que sempre foste e, no que me diz respeito, contaremos sempre um com o outro, no matter what!
Não tenhas medo de falar comigo, continuo a mesma, igual a mim própria, sempre disposta a estender a mão e a soltar uma gargalhada!